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segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

QUESTÃO DE GOSTO


Ele nunca gostou de ler. Principalmente livros que não tinham gravuras. As palavras que os livros continham eram apenas... palavras. Não havia magia, nem imaginação. As gravuras é que davam subsídio à sua imaginação. E quanto mais gravuras, melhor. Livros sem gravuras, ele não lia. Era uma pena, mas naquela época existiam poucos livros com gravuras. Quando tirava alguma nota vermelha na escola (no boletim escolar), chegava em casa e era obrigado a mostrar para sua mãe. O castigo era ler um livro. De pé. Qualquer um. Ficar o dia inteiro com o livro aberto em suas mãos e proibido de ver TV – que era o que mais gostava de fazer. A mãe era rigorosa, mas nem tanto, pois apenas via ele com o livro nas mãos e achava que estava lendo. Mas ele lia pouco. Conseguia ler a primeira página e depois folheava para ver se estava longe a primeira gravura do livro. Às vezes não havia gravura. Em outros era preciso ler dez páginas para se encontrar o primeiro desenho. Era um sacrifício. E quando o encontrava viajava naquilo e tentava entrar dentro da história. Ao virar a outra página, começava tudo de novo. Ele não tinha paciência. Lia uma página, saltava duas. Louco e ansioso para se chegar à próxima gravura. A leitura não acelerava e – ele não compreendia nada. As palavras, as frases, as poucas gravuras da história não animavam sua imaginação. Ele desejava que cada livro tivesse pelo menos uma gravura a cada duas páginas. Quase como uma revista em quadrinhos. “Por que as escolas não adotavam os gibis para leitura?” Pensava. Seria a glória. De gibis ele entendia muito bem. À medida que envelhecia, as gravuras já não eram tão importantes. Já conseguia ler livros sem este subsidio para sua imaginação. Qualquer livro que tomava nas mãos, imagens eram formadas em sua mente como num filme. Não soltava mais as páginas. Lia-as uma a uma. “Incidente em Antares”, de Érico Veríssimo fora um exemplo de como conseguira se livrar deste infortúnio. O escritor gaúcho era um mestre em “prender” um leitor. Aliás, ainda o é. “Seria muito interessante – pensava ele – se lêssemos vários livros de vários escritores e de todas as nacionalidades, para sentirmos a visão de mundo de cada um. Mas são tantos livros, tantos escritores e tenho tão pouco tempo...”

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