Ele nunca gostou de ler.
Principalmente livros que não tinham gravuras. As palavras que os livros
continham eram apenas... palavras. Não havia magia, nem imaginação. As gravuras
é que davam subsídio à sua imaginação. E quanto mais gravuras, melhor. Livros
sem gravuras, ele não lia. Era uma pena, mas naquela época existiam poucos
livros com gravuras. Quando tirava alguma nota vermelha na escola (no boletim
escolar), chegava em casa e era obrigado a mostrar para sua mãe. O castigo era
ler um livro. De pé. Qualquer um. Ficar o dia inteiro com o livro aberto em
suas mãos e proibido de ver TV – que era o que mais gostava de fazer. A mãe era
rigorosa, mas nem tanto, pois apenas via ele com o livro nas mãos e achava que
estava lendo. Mas ele lia pouco. Conseguia ler a primeira página e depois
folheava para ver se estava longe a primeira gravura do livro. Às vezes não
havia gravura. Em outros era preciso ler dez páginas para se encontrar o
primeiro desenho. Era um sacrifício. E quando o encontrava viajava naquilo e
tentava entrar dentro da história. Ao virar a outra página, começava tudo de
novo. Ele não tinha paciência. Lia uma página, saltava duas. Louco e ansioso
para se chegar à próxima gravura. A leitura não acelerava e – ele não
compreendia nada. As palavras, as frases, as poucas gravuras da história não
animavam sua imaginação. Ele desejava que cada livro tivesse pelo menos uma
gravura a cada duas páginas. Quase como uma revista em quadrinhos. “Por que as
escolas não adotavam os gibis para leitura?” Pensava. Seria a glória. De gibis
ele entendia muito bem. À medida que envelhecia, as gravuras já não eram tão
importantes. Já conseguia ler livros sem este subsidio para sua imaginação. Qualquer
livro que tomava nas mãos, imagens eram formadas em sua mente como num filme.
Não soltava mais as páginas. Lia-as uma a uma. “Incidente em Antares”, de Érico
Veríssimo fora um exemplo de como conseguira se livrar deste infortúnio. O
escritor gaúcho era um mestre em “prender” um leitor. Aliás, ainda o é. “Seria
muito interessante – pensava ele – se lêssemos vários livros de vários
escritores e de todas as nacionalidades, para sentirmos a visão de mundo de
cada um. Mas são tantos livros, tantos escritores e tenho tão pouco tempo...”
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