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sábado, 11 de junho de 2011

Leveza sobre sandálias





O arco impede o passo perfeito. Expulsa o corpo a sobressalto. Nada obstrui o plástico e a borracha de desenvolverem o livre arbítrio. O arco casa com as sandálias num enlace eterno sobre os tacos. Impossível pensar na estranheza dos fatos. Os objetos inatos na suspeita do desaparecimento do ser – daquela que os possuiu. O arco prensado, as sandálias saltitantes – peças centradas no feixe de luz, raptadas de sua proprietária. Subjugados pelo simples fato de serem objetos – de serem descartáveis. Arco em sua infinita grandeza de circunferência, do ato contínuo que beira à perfeição. Imagino a bailarina a girar o bambolê e saltitar com suas sandálias de dedo numa cena em câmara lenta de um filme noir. Naquele dia perfeito para se passear e brincar. Descrevo seu desaparecimento como o último suspiro do ar que respirou. E por fim, arco e sandálias descansam da atividade fútil que guiava suas vidas. Permanecendo assim abandonados à espera das horas.
Miniconto inspirado na obra de Stéphane Vigny “A emoção estética” (L’emotion esthétique) 2009, numa releitura da obra de Waltercio Caldas de 1977.