Total de visualizações de página

domingo, 19 de junho de 2016

UM TRÁGICO NOS TRÓPICOS


Ele joga tinta sobre a tela camada por camada sem diluição da mesma e o resultado: alto relevo numa confusão de cores! As tintas parecem ondular nos quadros, num movimento contínuo...

UM TRÁGICO NOS TRÓPICOS é o título da Mostra de quadros do artista gaúcho Iberê Camargo (1914-1994). Como ele próprio se definiu: “Não, meu coração não é maior que o mundo, é muito menor. Nele não cabem minhas dores”.

Na série “Tudo te é falso e inútil” é de uma profundidade sem fim: sujeitos isolados num mundo sem cores. Assustador e bonito.

Não se percebe uma explosão de cores vivas como num Van Gogh e sim uma apresentação de cores neutras (preto, cinza, marrom) e formas geométricas, onde a cor vermelha é apenas um detalhe. Ele usa pinceladas bruscas, riscos, rabiscos...  constrói e desconstrói a obra até chegar a sua perfeição.

Iberê Camargo no fim de sua vida resolveu retratar ciclistas em suas telas. Figuras esquisitas, ciclistas estranhos. Situados em ambientes desolados contrastando com a beleza da vida.

Sou um andante. Carrego comigo o fardo do meu passado. Minha bagagem são os meus sonhos. Como meus ciclistas, cruzo desertos e busco horizontes que recuam e se apagam nas brumas da incerteza.” Descreve o artista.

Realmente... um “trágico nos trópicos”...





sábado, 11 de junho de 2016

ESTRANHEZA ONÍRICA

“Há sonhos
que devem permanecer nas gavetas,
nos cofres, trancados até o nosso fim.
E por isso,
passíveis de serem sonhados
a vida inteira”.
                       HILDA HILST

E parecem sonhos as obras expostas na Mostra ARQUEOLOGIA EXISTENCIAL do artista plástico mineiro Farnese de Andrade (1926-1996). E na loucura dos sonhos dançam cabeças, bonecas, esferas cristalinas, esqueletos de pequenos animais, figuras talhadas em madeira, formas aprisionadas em redomas de vidro.

Há muita religiosidade expressa nas obras. Muitas delas em oratórios que encerram a complexidade de um artista. Outras, acondicionadas em resinas cujo aspecto lembra uma porção de figuras congeladas. Objetos em resina dão um efeito espetacular: a obra “São Miguel” de 1984, onde o santo parece – em tons avermelhados – matar uma serpente.

Muitas imagens chocam, causam estranheza, como os bebezinhos na boca de uma ostra gigante ou da aranha devorando outros bebezinhos.

E não deixa de trazer certo medo já que a música ecoada pelas paredes da galeria no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, tem um toque fúnebre. Os objetos e a música combinam bem. E os sonhos, também.