Como voluntário do Bike Anjo, já ouvi
muitas histórias de como as pessoas só tiveram oportunidades de pedalar apenas
na fase adulta. O mais extraordinário dos fatos foram senhoras que me relataram
que os pais não as deixavam pedalar por que podia “perder a virgindade”. Bom,
isso nas décadas de 1940 e 1950, principalmente em cidades do interior de Minas
Gerais. Felizmente nestas décadas do século XXI não ouvimos mais estas
histórias. Estamos evoluindo como humanidade.
O enredo de O SONHO DE WADJDA, cuja
temática está enraizada nos dogmas de uma religião muito castradora, esta
questão da “virgindade” é citada. No filme, a personagem Wadjda é uma jovem
garota da Arábia Saudita cujo maior desejo é ter uma bicicleta para poder
apostar corrida com seu amigo Abdallah. Vivendo num ambiente muito conservador,
ela faz de tudo o que pode para realizar seu sonho. Wadjda é uma garota
avançada para o local em que vive. Ela ousada – destemida. Gosta de andar com
tênis All Star, ouve rock e vende pulseiras que ela mesma faz para juntar
dinheiro para ter uma bike.
De certa forma, Wadjda desobedece aos
pais e a diretora da escola onde estuda apenas nos gestos. Não responde aos
adultos como uma garota mimada, e sim, no seu jeito de agir, como por exemplo,
pintar o seu tênis com caneta hidrográfica preta para seguir as normas da
escola.
A diretora do filme, Haifaa Al-Mansour, conduz com delicadeza este tema
delicado. Com muito humor e diálogos geniais da menina Wadjda.
Uma cena que me emocionou: o amigo Abdallah
ensinando a Wadjda a pedalar.
E no mais, um filme
cativante!