“Ser mulher, e
oh! atroz, tantálica tristeza!
ficar na vida qual uma águia inerte, presa
nos pesados grilhões dos preceitos sociais!”
A carioca Gilka Machado
(1893-1980) foi uma poeta além do seu tempo. Numa época onde reinava o
Simbolismo e a poucos anos de eclodir a Semana de Arte Moderna em 1922, ela se
apresentava ao mundo moralista e puritano da época com o lançamento de três
livros: CRISTAIS PARTIDOS (1915), ESTADOS DA ALMA (1917) e MULHER NUA (1922).
Eu digo “além do seu tempo”, pois a sociedade a considerava uma mulher
libertina por causa de seus versos. Em artigo do escritor Miguel Sanches Neto
no jornal RASCUNHO de Curitiba, no texto de Gilka:
“Estão assim
delimitadas as fronteiras desta poesia castamente ousada, em que o erotismo
está mais no uso sensorial das palavras do que na referência a comportamentos
devassos”.
Todavia, como mulher e como poeta, Gilka não foi compreendida
em seu tempo. Mais uma que teve a sua inspiração (e transpiração) suprimidas
por uma sociedade moralista e machista que:
“... passou a figurar
como uma perdida que escancarava seus hábitos feios. Esta compreensão lúbrica
de seus poemas despertava mais interesse pela mulher do que pela poeta, o que a
frustrava”.
Então e igualmente a outras poetas de sua época como
Francisca Júlia da Silva e Auta de Souza, mulheres extraordinárias. Mulheres
suprimidas...