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sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Gilka Machado




“Ser mulher, e oh! atroz, tantálica tristeza!
ficar na vida qual uma águia inerte, presa
nos pesados grilhões dos preceitos sociais!”

A carioca Gilka Machado (1893-1980) foi uma poeta além do seu tempo. Numa época onde reinava o Simbolismo e a poucos anos de eclodir a Semana de Arte Moderna em 1922, ela se apresentava ao mundo moralista e puritano da época com o lançamento de três livros: CRISTAIS PARTIDOS (1915), ESTADOS DA ALMA (1917) e MULHER NUA (1922). Eu digo “além do seu tempo”, pois a sociedade a considerava uma mulher libertina por causa de seus versos. Em artigo do escritor Miguel Sanches Neto no jornal RASCUNHO de Curitiba, no texto de Gilka:

Estão assim delimitadas as fronteiras desta poesia castamente ousada, em que o erotismo está mais no uso sensorial das palavras do que na referência a comportamentos devassos”.

Todavia, como mulher e como poeta, Gilka não foi compreendida em seu tempo. Mais uma que teve a sua inspiração (e transpiração) suprimidas por uma sociedade moralista e machista que:

“... passou a figurar como uma perdida que escancarava seus hábitos feios. Esta compreensão lúbrica de seus poemas despertava mais interesse pela mulher do que pela poeta, o que a frustrava”.

Então e igualmente a outras poetas de sua época como Francisca Júlia da Silva e Auta de Souza, mulheres extraordinárias. Mulheres suprimidas...


 Ser mulher, vir à luz trazendo a alma talhada
para os gozos da vida: a liberdade e o amor,
tentar da glória a etérea e altívola escalada,
na eterna aspiração de um sonho superior…”