O arco impede o passo perfeito. Expulsa o corpo a sobressalto. Nada obstrui o plástico e a borracha de desenvolverem o livre arbítrio. O arco casa com as sandálias num enlace eterno sobre os tacos. Impossível pensar na estranheza dos fatos. Os objetos inatos na suspeita do desaparecimento do ser – daquela que os possuiu. O arco prensado, as sandálias saltitantes – peças centradas no feixe de luz, raptadas de sua proprietária. Subjugados pelo simples fato de serem objetos – de serem descartáveis. Arco em sua infinita grandeza de circunferência, do ato contínuo que beira à perfeição. Imagino a bailarina a girar o bambolê e saltitar com suas sandálias de dedo numa cena em câmara lenta de um filme noir. Naquele dia perfeito para se passear e brincar. Descrevo seu desaparecimento como o último suspiro do ar que respirou. E por fim, arco e sandálias descansam da atividade fútil que guiava suas vidas. Permanecendo assim abandonados à espera das horas.
Miniconto inspirado na obra de Stéphane Vigny “A emoção estética” (L’emotion esthétique) 2009, numa releitura da obra de Waltercio Caldas de 1977.
Miniconto inspirado na obra de Stéphane Vigny “A emoção estética” (L’emotion esthétique) 2009, numa releitura da obra de Waltercio Caldas de 1977.